Bom dia, boa tarde, boa noite...não sei bem quando você vai estar lendo esta carta, se você já terá me encontrado, se apenas passamos perto um do outro algum dia, se eu ainda estarei aqui ou se o século ainda será o mesmo, mas é importante que saiba que eu realmente esperei por você.
A cada dia que passei sem sua presença me feri, buscando em outros o que só você poderia me dar, as belas tardes no parque, os risos incontidos e abraços apertados, a viagem a Veneza, o recitar de Shakespeare na janela. Não se assuste se não estiver se lembrando dessas coisas, são memórias não consumadas que protagonizaram meus sonhos ao dormir. Quantas vezes os filmes serviram como desculpa pra desabar em lagrimas, mesmo já sabendo que no fim ficariam juntos ou que o mocinho iria morrer, não importava era meu ritual, para desabafar a dor que a sua ausência constante me causava. Sim sempre quis esse amor sonhado, inventado da forma mais sublime, de ser alma gêmea e ter essa historia perfeita pra contar aos netos um dia na varanda de casa.
Não sei de que tempo você é, talvez esteja perdido na Paris dos anos 20 depois de pegar carona em um carro estranho na porta da Catedral...talvez eu esteja vendo filmes demais e me esquecendo que não dá para prever os finais na vida real, nem as chegadas dos príncipes nos seus cavalos brancos. Eu preferiria tirar toda essa cor a minha volta, acho mais bonito em preto e branco, pois a atenção é fixada nos olhos, nas batidas do coração, tudo bem pra você se o nosso filme for assim...olha ai, estou fugindo da realidade de novo. Só queria essas coisas bonitas do amor, que a maioria das pessoas não vêem mais. Mas que seja, mon petit ami, a cada dia que me levantei foi na esperança de encontrá-lo na próxima esquina, de me debruçar em seus braços e conhecer teu sorriso, teus lábios. Foram tantos devaneios, pensei em desistir por tantas vezes, mas a esperança não me deixou, foi mais forte que o tempo que me assombrava. O que sei é que a vida nos enrola e dá, num repente, um nó, como naquelas finas correntinhas douradas que guardamos com cuidado pra não embaraçar. E de tão fina, se tentamos consertar, ela arrebenta sem conserto, num som desconcertante de fim.
E é por ser assim, tão difícil e doloroso o fim, que resolvi te escrever, para que quando encontrar esta carta não se sinta só como eu me senti e que saiba que foi amado e esperado por outro alguém em algum lugar do tempo e espaço. Tempo e espaço que nos impediu de sermos um.
"Endereçado ao vento, para que no reboliço do destino entregue àquele que tanto tenho procurando e que tanto tem se escondido de mim."
"Endereçado ao vento, para que no reboliço do destino entregue àquele que tanto tenho procurando e que tanto tem se escondido de mim."
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