quinta-feira, 19 de maio de 2011

Utopia

(Então lá estavamos. Olhando janela a fora as folhas do outono se esvaírem em meio ao céu escuro, um azul escuro perfeito. Pintura intima gravada em minha mente. Todos os dias pertenciam a nós “vem enquanto o tempo é nosso”.

Acordar pela manhã e sentir seu pé roçando no meu, seu perfume tão próximo inebriando meus pensamentos. Do travesseiro, do lençol e impregnado em meu colo. As coisas mais lindas da vida. Nossas viagens inesquecíveis, eu no banco ao lado, surf music fazendo a trilha do nosso ato teatral. Um mapa voando pela janela briga desnecessária, mas certa. No entanto no contrato de adesão estava claro, “totalmente desnorteada, desconcertada...”.

Abraçado frente a lareira, uma casinha no meio do nada, montanhas ao redor. Quanto tempo ao seu lado, não sei dizer, mas não mais do que o esperado. O esperado é o infinito, incerto, impreciso. O toque das suas mãos a procura das minhas é capaz de fremitar em ritmo descompassado meu coração que lhe foi ofertado. Fugindo para um lugar só nosso, longe do mundo imerso no caos, procurando mais sono saudável e menos café, mais você comigo e nós dois juntos.

Posso sentir a brisa do mar soprar em meu rosto, a água beijar meus pés, o sangue pulsando e o desejo queimando nas veias. Querer-te sem pudor. Suado, gelado, sujo e ensopado. Apenas um desejo desenfreado. Desentendimentos, falhas da vida, mas fazer as pazes é tão bom, graças a quem inventou a briga. Jantares a luz de velas, champanhe no gargalho. Brincadeiras infantis, beijos cálidos, cumplicidade explicita vinda de um amor desmedido. Não hesitarei em nenhum segundo fazer do teu peito a minha morada. O tempo parece se arrastar quando deitada em seu colo, filosofamos sobre a vida, os assuntos do mundo e nossas coisas em comum. Flores secas guardadas na agenda, qualquer lembrança que seja de dias incomparáveis, um refugio que a saudade alcança, para a incerteza da presença do amanhã. E nos seus olhos vejo os reflexos da nossa brincadeira de casal, inconsumada.)

Eu estava sentada na calçada, com o salto alto escorado no meio fio, o vestido de aspirante a princesa, surrado, há tanto tempo tinha esperado. Avisaram-me que o tal príncipe encantado não viria, mas que eu me acostumaria a outra coisa qualquer, então para surpresa de quem pode ver você apareceu.
 _o que faz aqui, sozinha, nesta escuridão?
E essa sua chegada não anunciada deu a cada pequeno gesto a estupenda força delicada de me fazer sorri.

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