quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cárcere




Um amor estático flutua preguiçoso a três palmos do meu travesseiro, quando é madrugada e tudo é sussurro. Lembranças eufóricas e carneiros pulando brigam pelo primeiro lugar. Provo paciência. A página branca e tolerante freia um abraço. A distância é ríspida. Meu escândalo não te alcança, é desespero invisível. Insuportável é gostar sem ruído. Armazeno você num parágrafo, pra rabiscar mais tarde. Apagar mais tarde. Quando já for muito tarde. Muito tarde e adiável.

Meu mundo apático se embriaga de olhares perdidos. Nem sei o que miro. O dia se esgarça em frames. Tarefas e compromissos e gritos espancam a vida em rotina e eu mantenho meu controle. A janela trancada - nem o ar respira aqui dentro - lendo qualquer coisa que me faça esquecer e, quando percebo, perdi uma hora. Sessenta minutos de você, chumbo agarrado aos meus tornozelos. Me enterrando em silêncio que resolvi habitar, por opção, por precaução.

A sua felicidade abafando qualquer coisa que tenha me dito naquela ligação. Na surpresa de uma esquina que dobrei, em vez de te evitar. Numa fotografia que pensei ter apagado – ela tem seu cheiro e o meu agasalho também. E terça passada se me surpreendessem: a história de alguém que respira agasalhos e tem olhos encharcados de alguma coisa que um dia ganhei por engano. Seu cheiro, que não chamo de perfume, e algumas partes da sua vida me interrompendo. Freneticamente.

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