quarta-feira, 2 de julho de 2014

Espelhos



 Ela costumava escrever, costumava ter planos de entrar em um avião e deixar o mundo que conhecia para trás, tinha um frio na barriga corriqueiro na ansiedade de ser quem ela mais queria ser, uma aventureira.

 Queria se apaixonar em Paris, desistir do amor e conhecer a Nova Zelândia, a Índia e cantarolar nas areias egípcias e depois se casar na Grécia com um vestido branco e uma coroa de flores na cabeça.  Ela queria  ser simples, cozinhar por ali e por aqui, inventar mil receitas, declamar poemas, escrever poemas, viver poesia.

 Outra noite olhou através de uma taça com vinho, e viu seu caminho, seus planos na redoma de uma baderna, se viu perdida e vivendo uma vida que não lhe apetecia. Uma musica socou seu estomago, disparou seu coração e ela começou a se perguntar quem ela era e onde tinha perdido os sonhos de menina.

 Ah, se tudo fosse tão fácil, se houvesse mais coragem, menos pessoas para satisfazer, ela se viu engolida por um mundo de ideias que lhe foram direcionadas, ninguém perguntava o que ela queria, apenas diziam o que ela deveria ser. Uma taça, duas taças...cinco taças, uma garrafa e muitas lagrimas.

 Ela adormeceu e com olhos inchados sonhou, sonhou mais uma vez que seria quem desejava, se sentiu viva, sentiu na boca o gosto do que lhe esperava,  das paixões tórridas, do vento no rosto, se viu gargalhando entre um café e uma viela, ela não pertencia ao mundo em que tentavam lhe enquadrar, ela era uma sonhadora,  não queria um carro do ano, ou uma mansão, mas sim histórias pra contar, uma casa com balanço no jardim, ou um apartamento com varanda que caiba uma namoradeira, uma samambaia e velinhas espalhadas.

 Ela queria a paz de ser quem estava destinada a ser.

 E se num redemoinho sem aviso fosse levada pra terra de OZ? E se por uma sombra misteriosa fosse levada pra Terra do nunca? E se caísse em buraco com destino certo para o País das Maravilhas?

Ah, quem vai saber? E se?

 Uma mariposa pousou no nariz, ainda adormecida sobre a mesa, torceu o nariz, mariposa voou, e ela continuou ali, adormecida, com olhos inchados,  sem saber, ainda de mãos atadas, por nós invisíveis. 

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